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Crônica de Imigrante – Morar longe

Morar na Europa é lindo. Perto de Paris, Londres, Roma e Amsterdam. Longe dos amigos, do colo da mãe e dos aniversários de família.


Ser imigrante é conhecer um novo mundo

Misturar culturas, conhecer gente nova. É engolir todos os dias um olhar preconceituoso, algumas palavras vazias e sem fundamento de gente que nunca saiu nem da própria cidade.

É processar piadinhas e generalizações. Tudo em prol da paz, afinal uma discussão não levaria a lugar nenhum.

Morar fora é ganhar liberdade, independência e autonomia. É querer um abraço de mãe nos dias difíceis, é voltar a desejar os puxões de orelha que te protegiam de inúmeras “Quebradas de cara”. É frequentar almoços de família onde o assunto é você e seu gosto alternativo pra tudo que é estranho.

Mudar é pegar um avião internacional e passar horas sobre o oceano fazendo planos. Planos que você vai pensar mil vezes antes de fazer, afinal agora mora sozinho em outro país nunca se sabe o que pode acontecer…

Morar na Europa é gostar de frio, ou sobreviver a ele sem muita vontade e gosto.

É fazer compra de casa olhando preço e validade, é cortar o chocolate caro, a geleia de marca, as bolachas super recheadas e as frutas importadas.

É não participar do nascimento de um primo, do enterro de um amigo, do aniversário de um tio, de um churrasco barulhento de domingo.

É não brigar com o cachorro cagão, é não gritar com o irmão mais novo é não pedir mimos de vô e vó.

Como se ter asas fosse primordial.

 

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Quando percebemos, não vimos nosso cachorro morrer, estávamos longe demais. Não sabemos em que ano escolar nosso irmão está e nem quanto ele calça ou veste mais.

Não vimos os primos darem os primeiros passos e rabiscarem a parede do quarto. Quarto que nem tem seu cheiro e jeito mais.

Quando notamos, nossos pais estão com um pouco mais de rugas e feições. Orgulhosos do que você chama de sonhar e ir conquistar.

Não sabemos mais qual a cor favorita do amigo nem as preferências gastronômicas. Não vamos as reuniões dos velhos amigos e não cantamos mais no chuveiro.

O “João de Barro” vive em campo aberto, mas destacasse por seu andar pausado e alternado em poucos momentos de corrida. Tem asas mas passa boa parte do tempo no solo. Tem o hábito de cantar juntos a entrada do ninho, são pássaros de longos e únicos relacionamentos.

Com 14 dias as crias do João de Barro já cantam, ou balbuciam qualquer coisa e aos 20 dias deixam o ninho…

Talvez seja assim, por isso, pra isso. Sair tão cedo, pra desejar depois voltar a não voar tanto.

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